sábado, 30 de março de 2013

Exercícios do livro L'ATELIR D'ÉCRITURE THÉÂTRALE, de J. Danan e J-P. Sarrazac.
Tradução e transposições de minha autoria.




PERCURSO DE JEAN-PIERRE SARRAZAC
Sobre as sessões, as ideias, o formato

P.12
MATERIAL PRECEDENTE ao ateliê.

- 1) uma grande situação dramática referente ao repertório trágico (do teatro grego trágico ao teatro romântico europeu); 2) o texto várias vezes relido de uma dessas quatro tragédias: Prometeu de Ésquilo, Antígona ou Édipo Rei de Sófocles, Medéia de Eurípedes; 3) Um texto transcrito de uma conversa roubada, onde deverá estar ao máximo descritos os meandros, as complexidades, a oralidade...; 4) Um fragmento de uma história de vida que você aprendeu de alguma pessoa próxima; 5) Um ou várias passagens de jornal que remetem a Fait Divers; 6)Uma pequena documentação sobre um fato histórico de sua escolha; 7) uma fotografia tirada por você, que fale do estado atual do mundo.

P.13

[...] O si mágico de Stanislasvki. O grupo coopera com a escrita individual. Digo que após um participante terminar de ler o seu texto (formas breves ou ultra-breves, veremos), o coletivo é convidado a lhe propor os "si" (e se o seu pergonagem... e se a ação ocorresse... E se a peça fosse escrita de forma... E se fosse um sonho...) Esses  "se mágicos" propões pistas para a reescritura dos textos, caso o autor queria segui-los. Nos ateliês que eu guio tudo pode se dizer, mas SEMPRE com os SE.

P.14
POR ONDE COMEÇAR?

Bom começo: realizar uma peça curta, "commedia dell'arte de hoje". Em meia hora, cada participante deve escrever uma ficha-personagem, de forma bem caricatural, de um tipo humano da nossa sociedade. Depois que já está escrita eu peço uma outra ficha, de um outro tipo. Depois colocamos tudo sobre a mesa. Cada participante se encontra com outras duas fichas onde ele irá escrever uma peça curta  (3 páginas) confrontando esses dois personagens. Ele poderá colocar um terceiro. Podemos perceber a dimensão individual e coletiva do ateliê. As leituras serão feitas. E entraremos nas propostas dos "se".

P. 16
PEQUENOS DIÁLOGOS

Pequenos diálogos entre animais, entre objetos, entre ser humano e objeto, entre anjos, entre coisas invisíveis, entre surdos, entre si mesmo, diálogos heterocrônicos... Depois de realizados e lidos, proponho leituras de textos clássicos e contemporâneos que se referem a esses princípios. Tchekov, Vinaver, Jon Fosse, Daniel Keene, Koltès...

P.17
A CONVERSA ROUBADA

Usar o exercício precedente neste procedimento. Trocar os personagens, temas,


*****

27
CRIAR UM DISPOSITIVO

Escrever para o teatro hoje em dia é cada vez imaginar um agenciamento inédito do espaço e do tempo.  As famosas regras de unidades permitem aos autores dramáticos de colorir suas criações dentro de um  mundo predeterminado. Mesmo as noções de gênero - tragédia, comédia, drama, nos idos do século XVIII - já são obsoletas.
As questões se colocam quase que em termos brechtinianos : " como dar conta de um teatro do mundo em que vivemos?". Certamente não será pretendendo definir uma "teatralidade", como há numa televisão-realista, que se apresenta a nós como um zoo de tipo humanos artificiais, por ela reformatados.

O teatro não é uma esponja da realidade. Ele pode, em revanche, até pretender - como a filosofia, mas por meios diferentes, com perceptos e afetos (Deleuze) mais do que com conceitos - criar modelos efêmeros destinados a nos ajudar dar conta do real. Para atingir esse objetivo, o escrevedor deve tomar cuidado para não ficar preso nessa realidade que acreditamos tocar com os dedos.

P.36
TAROTS DRAMATÚRGICOS
Alguns poucos

** "Desde já, que seu diálogo seja ação."
** "As palavras e o seu volume de silêncio."
** "Você escreve também com o seu inconsciente. Tenha confiança na livre associação, e pratique em relação as ideias que vem a você. Atenção flutuante."

P.37
Sobre o plano dramatúrgico, deve-se ajudar a cada participante do ateliê a encontrar, a inscrever eficientemente, seu trabalho dentro da perspectiva - e ela é múltipla e protofórmica - da forma dramática moderna e contemporânea.


JOSEPH DANAN

P.56
Transposição-Atualização-Parafrases-Transcrição ou Tragédia de 5 minutos.

Atualizar uma peça do repertório clássico. Fazer uma transposição contemporânea. Alguma que seja do breve conhecimento de todos. A ideia é trabalhar a partir de algum traço deixado em cada um pelo clássico ('a lembrança do clássico). 

P.59 e 60
EU ME LEMBRO DE

Eu me lembro de. Não é um exercício apenas de memória. Não se refere à uma lembrança apenas pessoal, como 'eu me lembro do primeiro beijo', ou mesmo uma lembrança universal, 'eu me lembro da minha infância na praia'. Mas de uma lembrança que contenha, seja, o traço de uma época em você. Após feito (10minutos), todos devem ir lendo, a múltiplas vozes. Perceber esse dispositivo dramático: você partiu de uma voz e imaginou uma cena dramática.

sábado, 23 de março de 2013


PENSAMENTOS -


Xerox do Vinícius
Livro: Esse ofício do verso, de Jorge Luis Borges

- " Aqui talvez tenhamos chegado à ideia que tentei desenvolver em minha última palestra sobre a metáfora - a ideia de que talvez os enredos pertençam somente a uns poucos modelos. Claro, hoje em dia as pessoas inventam tantos enredos que somos ofuscados por eles. Mas talvez esse acesso de inventividade esmoreça, e quem sabe então achemos que esses muitos enredos não passam de aparências de uns poucos enredos." (p.58)

Entrevista sobre Pinókio de Roberto Alvim
(http://www.novasdramaturgias.com/conteudo/roberto_alvim/entrevista_roberto_alvim.pdf) 

- "8. É possível notar mudanças no cenário teatral, em termos de dramaturgia, hoje, em comparação a 10 anos atrás, quando o projeto Nova Dramaturgia Carioca teve início?
O teatro vive hoje um dos maiores momentos de sua história, um autêntico renascimento, graças à reinvenção de suas formas perpetrada sobretudo pelos dramaturgos contemporâneos. O grande desafio para a dramaturgia, hoje, é problematizar a ideia de trama, de conflito, de personagem (esteios do drama tradicional, ligados ideologicamente a uma visão hegemônica acerca da condição humana), e, promovendo o desenvolvimento de obras com outras bases, conseguir fazer com que estas se tensionem, criem ruídos, deslocamentos, desdobramentos, em suma: fiquem de pé, proporcionando experiências estéticas inaugurais que ampliem nossas vivências, conduzindo-nos em venturas desconhecidas.

[...] Uma obra muito mais próxima da lógica da poesia que da lógica da prosa. Os neologismos (e arquiteturas linguísticas inusuais) presentes no texto são outras formas de habitarmos a linguagem, são a criação de significantes que expandem e instigam nosso imaginário na invenção de novos significados (inexistentes até então), são potência, liberdade e arbítrio, redefinindo nossa estrutura de pensamento, de sensibilidade, reconstruindo nosso modo de vermos a nós mesmos e de nos relacionarmos e estarmos no mundo. E, em termos temáticos, corroboram para a construção de uma NOVA MITOLOGIA, de uma OUTRA HUMANIDADE, através do desenho de CRIATURAS- LINGUAGEM que se constituem como alteridades radicais, NOVOS MOLDES ARQUETÍPICOS. Um texto no qual a linguagem transita todo o tempo entre as instâncias da EVOCAÇÃO e da INVOCAÇÃO. Trata-se de um teatro que recusa o CONHECE-TE A TI MESMO e que propõe um CONSTRÓI-TE A TI M-ESMO. A cena não é um ESPELHO no qual nos reconheceremos, mas uma TECELAGEM norteada por outras possibilidades de vir-a-ser, para além do homem cultural, normatizado, estático, conformado. Tudo tem a ver com forças inconscientes, invenção, desejo (a dramaturgia como uma máquina desejante) e HIBRIDAÇÕES, em permanente instabilidade e mutação.
  

domingo, 10 de março de 2013

Ecritures dramatiques: pratiques d'atelier - Ernic Durnez


Fichamento do livro. Pontos de interesse.
Tradução de minha responsabilidade.





Espaço em círculo, sem mesa ao centro para que todos se vejam por inteiro.

O tipo de pedagogia que eu tento desenvolver não é aquela baseada em modelos ou sobre uma teoria, mas demanda tempo e exige uma intensa participação dos escrevedores.

Dar a palavra primeiro ao autor do texto antes que o mesmo seja lido. Como uma forma de focalizar o autor no seu objeto, e não criar aquela sensação anterior do outros escrevedores de uma predisposição. Ao mesmo tempo que tira o lugar do autor se desculpar depois da leitura.

Das grandes virtudes de leituras coletivas, momentos dinamizados pela impaciência e o prazer de descobrir como cada um responde singularmente a uma consigna comum.

Quando os participantes falam, se apresentam, não deixo a palavra chegar até os “eu não sei se vou ficar todo o tempo”; “é muito importante pra mim fazer esse workshop”; “ escrever é tudo na minha vida”; “pra mim muitas coisas vão ser decididas depois dessa experiência”; “estou saindo de um período muito difícil...”

O Ateliê não é um espaço de terapia.

Depois que todos falam eu tomo a palavra para estabelecer uma conexão entre o todo. Apresento-lhes “as regras do jogo”. E escrevo uma frase provocativa, a primeira delas: “Eu não vou ensinar ninguém”.

O trabalho de escrita não é uma ciência exata. Cada um deve encontrar seu caminho, e se for real o desejo, destinar tempo ao seu trabalho.

Como outra “regra do jogo”, eu advirto que eu não vou trabalhar sobre temas. Não imporei temas, nem interrogarei os participantes de suas escolhas de assuntos. Se alguém quiser escrever sobre margaridas e coelhos azuis...O que nos interessa não é sobre o quê você quer falar mas COMO esse isso vai se dar para nos interessar.

Os escrevedores são os mestres. É preciso lembrá-los que eles tem a liberdade de mudar ou não o que quiserem nos seus textos. No entanto, a liberdade na escritura é uma das coisas mais difíceis de se adquirir.

Uma das dificuldades que encontram, em geral, os participantes na escritura dramática é que eles se esquecem que escrever para o teatro é primeiro escrever para atores, escrever algo que depois uma equipe de criação vai se deparar para criar um espetáculo.

Como compreender a teatralidade no trabalho de mesa? Como se dá essa especificidade do trabalho teatral, a escrita dramática, fora do palco?

REGRAS:
1- Eu não vou ensinar ninguém.
2- Não trabalharemos sobre temas específicos.
3- Aceitar ler seu trabalho para o grupo. O ateliê é composto de 4 tempos: escritura, leitura, comentários e re-escritura. Por isso é indispensável que cada um aceite de comunicar aos outros aquilo que escreveu. Parece óbvio, mas frequentemente os escrevedores se recusam dizendo que que não estão contente com o que escreveram. A isso eu respondo que não importa tanto o resultado, mas a tentativa, os caminhos. ( nesse ponto várias questões silenciosas surgem: medo dos comentários dos outros, medo de perderem suas criatividades, medo de serem criticados pela imperfeição, retomada de um sistema educacional opressivo da infância, submissão, competição... ) E se, apesar de tudo, alguém se recusar a ler eu não torno isso um caso de Estado.
4- Não desperdice nada. (toda matéria desorganizada surgida poderá, algum dia, servir, resservir.


Quando um texto tem vários personagens eu proponho que o autor escolha outros estagiários para ler. E que ele confie seu texto, sem dirigi-lo. Assim, peço também aos que realizarão a leitura de não proporem uma interpretação, lerem com calma, tendo atenção à pontuação, aos silêncios... É muito comum que às vezes o autor queira muito ler um personagem, e o perigo disso é a ser caricatural.

Questões como essas surgem, são interessantes, as eu sempre os lembro que estamos ali para abordar problemas da escritura e não de cena, de jogo cênico, mesmo que esses conceitos estejam entrelaçados.

O autor que não tenha o mínimo de experiência teatral ou o instinto imediato da coisa proporá frequentemente cenas muito explicativas, onde no lugar de agir, os personagens comentam, justificam, nomeiam seus estados psicológicos, suas motivações.

Um texto que diz tudo, explica tudo, justifica tudo, priva o espectador (ou o leitor) do prazer da dedução, do mistério, da emoção que nasce porque ela não foi imposta, mas conduzida.

Eu costumo dizer que o espectador vem ao teatro TRABALHAR.

Cito de cabeça uma frase de Koltès: “no teatro, um personagem não dirá eu estou triste, mas sim, eu vou dar uma volta.”

Escrever está fora daquela imagem que temos de uma mão inspiradora. Escrever é tempo, um processo, um trabalho, às vezes de imersão. Reler é escrever, cortar é escrever, rasurar é escrever, não escrever é escrever. Eu observei ao longo do tempo que há uma relativa facilidade de escrever a primeira versão de uma cena, mas esse movimento se tornava pobre quando era preciso retrabalhar.

Cada um pode encontrar respostas às suas questões. Eu não tomo o lugar do estagiário dizendo o que ele precisa mudar no seu texto.

Eu comparo de longe o trabalho do escritor de teatro ao trabalho de um compositor.

Às vezes, antes da re-escrita eu proponho grades de leitura, lugares de questionamento do texto. Essas grades interessam mais à língua do que às ideias. Eu proponho, por exemplo, de examinarem os textos unicamente do ponto de vista rítmico (pontuação,  duração das frases, respiração, escritura dos silêncios) ou sonoras (cor das palavras, assonâncias, fluidez...) É um trabalho difícil, uma vez que nossa educação escolar privilegia a organização de ideias em detrimento da construção sonora. Se interessar ao impacto físico de um texto pode nos permitir de esquecer um pouco as preocupações puramente racionais, desejos de controlar o conteúdo da mensagem...

Eu proponho outros tipos de grade que multiplicam os ângulos de ataque em vista de uma releitura objetivada do seu próprio texto. Pode ser reler com atenção a classes específicas de palavras (advérbios, adjetivos...), sobre questões poéticas (singularidade de imagens, metáforas, hipérboles...), sobre aspectos da construção dramática (questão da cena, tensão, resistência, retenção, dinâmica, personagens...)


P.22 e 23 Dinâmica dos estágios (resumo).

Uma das dificuldades é o ritmo que o condutor dá ao estágio, de forma a respeitar tempos distintos dos participantes, mas não apenas cedendo ao mais veloz nem o mais lento. É preciso ter uma dosagem, procurar um equilíbrio entre a gestão do tempo coletivo e do ritmo individual.

P.25. Durnez expõe “tipos” de estagiários que conseguiu analisar ao longo do tempo.

P.26 Método. Durnez fala que desde que ele frequentava alteliers, alguns exercícios, olhares pedagógicos foram se repetindo e se aprimorando nos seus próprios ateliers.

Por que simplesmente não deixar os estagiários frente a uma folha em branco? Não é essa a realidade do trabalho do autor?
As restrições (regras, contratos) são liberdades.  No caso de uma formação (o ateliê) o tempo é acelerado.  Estar frente ao nada, sem nenhuma ‘regra’ ou ‘indução’ pode causar ao estagiário, que está à procura de inspiração, uma grande decepção improdutiva.

Escrever um rascunho, de uma vez, num jato, deve ser estimulada por um ou dois comandos que permita o estagiário não se antecipar, se censurar, se autocontrolar. Eu acho importante, dentro de um ateliê, de se produzir rápido textos para que as reflexões se articulem ao entorno de verdadeiras proposições de escritura, de uma matéria.

Para que os estagiários preservem o máximo de seus imaginários é preciso que os comandos sejam trabalhados profundamente.

P.27

Os comandos vão  propor diferentes entradas para a elaboração de uma primeira versão de uma cena ou fragmento.

Os comandos, ou instruções, são por vezes vistas pelo grupo como pequenos desafios, uma vez que cada um irá comunicar ao outro pelo resultado (provisório) do seu trabalho.

É comum um certo clima de competição entre os estagiários. Se alguém se destacou por algum motivo... Podemos lembrar como era na nossa escola. Isso acontece naturalmente. Faz com que questionemos o nosso trabalho.  No entanto, o texto lido aos outros não será objeto de sanção ou de julgamento mas de UMA REFLEXÃO COLETIVA. O que criou o riso? Como a emoção foi suscitada? Como foi agenciada a narração? O que compreendemos, o que supomos, o que esperamos....???


P.28

Os jogos de escritura não são um fim em si mesmos. Eles são facilitadores.
Nessa parte, Durnez fala sobre essas instruções ao longo dos exercícios de escrita. Ele escreve em pequenos pedaços de papel algumas instruções e que, ao acaso, serão tiradas pelos estagiários. Dessa forma ele diz que muitas vezes os autores conseguiram desenvolver seus textos em momentos em que eles próprios estavam presos. É um jeito de movimentar a escrita dos estagiários, fazendo-os estarem atentos aos caminhos da escrita e, por outra parte, ludicamente, libera qualquer questionamento de ‘porque você destinou tal elemento a tal autor’, comparações.

P.29

A elaboração de uma peça de teatro, ou de uma obra literária em geral, é sem dúvida o resultado de uma tensão, de uma dinâmica entre uma meditação, um desejo, uma cólera, uma reflexão anterior ao ato da escrita, de uma parte, e de sensações, de emoções, de eventos, de revelações tidas no momento da escritura, de outra parte.

Prudentes de desejosos de executar perfeitamente, muitos estagiários tem uma tendência de querer tudo fechado, organizado, preparado, antes de se colocar a escrever, a criar. Isso os impede de estar realmente presentes ao que se está ‘jogando’ naquele momento de escrita.

P.30
Durnez fala de um "inconsciente coletivo do ateliê". Um olhar que ele desenvolveu ao longo dos anos, apreciando as personalidades dos estagiários, os ritmos, o que 'funciona', as imagens que pairam sobre cada estágio. Certos elementos podem ser usados, re-usados, nos jogos de escritura.

Dois pontos de vista sobre a escritura. Uma que se refere ao ato de escrever. Intimamente ligada aos exercícios propostos, curtos, no ateliê. Um trabalho à lupa, com diz Eric. E outro ponto de vista é sobre a obra. Depois de vários exercícios executados, Eric convida os alunos à refletir sobre vários aspectos dos textos, pensando que tudo aquilo, ou nem tudo, poderia vir a ser uma peça de teatro. Essa reflexão, esse pensamento, é também escrita.

P.31 COMO ABORDAR A ESCRITA DRAMÁTICA? LINHAS DE TRABALHO, ÂNGULOS DE ATAQUE.

Durnez fala que irá tratar de algumas "especificidades" da escritura teatral. Mas está de acordo que essa palavra "especificidade" não é a melhor. Pois, existiria algo específico que garantisse o estatuto de teatral?

Os persongens:
Mesmo que diferentes correntes da escritura teatral contemporânea critique ou abandone as noções de personagem, as quais os autores podem preferir chamar de figuras, corpos, vozes, coro, fantasmas, arquétipos... mas o que sei é que não há como fugir desse ser de acesso que permite produzir rapidamente a palavra e a ação.

P.32

Não usar as 'fichas' de personagem. Pelo menos de forma usual. É um aprisionamento de uma força que nem o escritor conhece ainda. No entanto, o que sugere Durnez é uma concepção do personagem, não situando-o em julgamentos. 'Eu proponho de interrogar sobre o passado do personagem, fatos marcantes, situação social, o que ele deseja, no que acredita, o que busca... Ou seja, povoar o imaginário. / Durnez usa a expressão 'remplir son sac à dos', que quer dizer literalmente encher sua mochila./  Tudo isso serve mesmo que seja para jogar fora. Eu peço para que nomeie seu personagem, dê, simbolicamente, seu nascimento, individualizando-o.

Dessa forma, a ficha do personagem incitada por Durnez deverá ser modificada de acordo com as necessidades. Ele nos dá o exemplo que em pede a um escritor tornar seu personagem Lemercier pai da jovem Maria. O escritor diz ser impossível, já que Lemercier tem 30 anos e Maria 22. Durnez diz: você pode mudar isso.

P.33
Este exemplo anterior é simples. Mas ocorre de que alguma mudança cause um efeito cascata na ficha e na história que vinha sendo escrita. Ou seja, um grande trabalho minuncioso a ser feito.

PONTO DE PARTIDA. Para ajudar os estagiários eu proponho de que eles tenham em sua memória um ponto de partida. Livre.
A questão da inspiração que me é posta em todo ateliê encontra aqui uma parte da sua resposta. Como dizia Rei Lear: Nada vem do nada.
Eu nunca peço para um estagiário justificar seu personagem.

P.34

A Língua
O íntimo de um autor se revela na língua que falam seus heróis. Durnez fala dos exercícios que vão desde o uso mais cotidiano da língua, geralmente os primeiros exercícios, até às buscas e resultados uma linguagem literária que forja a oralidade.
A invenção de uma língua é um ato poético de um autor dramático, é isso que revela sua singularidade, sua pungência. O ritmo, a respiração, o som das palavras que o autor confia aos atores, são o canal pelo qual passarão as emoções incontroladas, as obsessões, as vibrações mais secretas.

P.35

Para isso, Durnez propõe exercícios que irão mexer com a "matéria da linguageria", permitindo tratar a língua, triturá-la, mastigar e vê-la como um fenômeno sonoro, físico, uma combinação de silêncios e de palavras, uma composição destinada ao corpo e à voz. Não é fácil enxergar tudo isso. A ditadura das idéias são bem reiais.

-> ver caso que Durnez conta nesta página.

P.36
Os jogos de escritura que eu proponho tem frequentemente por objetivo ajudar os escrevedores a se esquecer um pouco, a se autorizar ser imprudente. ISSO PARA FUGIR DA PRISÃO DAS IDEIAS.
Essa aprendizagem da liberdade é um trabalho longo e trabalhoso.

O que me perguntar 'o que tenho que fazer para me tornar um escritor', só tenho uma pobre resposta a dar: desejo, tempo e trabalho.

É importante que o estagiário veja que seu material escrito possa ser remodelado. Que ele é uma 'matéria prima'.

P.37
Aprender a escrever é primeiramente aprender a entender.

Questões e situações:


Na dramaturgia clássica, uma boa cena é uma cena onde há algo bem estabelecido, uma questão forte, uma situação própria para criar a 'tensão dramática'. Frequentemente essas cenas 'chaves' se articula em torno de um conflito, que nasce dos interesses de antagonistas entre personagens, de segredos, de confissões e desejos impossíveis, de objetivos...
Essas questões formam uma coluna vertebral de uma peça, suas veias.

No interior das cenas existem dois tipos de palavras: aquela palavra que nos reporta ao funcional conflito, à situação, ao concreto, à ação; e a palavra poética. Às vezes esses dois tipo se misturam gerando uma palavra singular.

P.39

O não-dito, as elipses -

Eu me interesso mais pelo o que vocês não escreveram. Os personagens se explicam sobre tudo, comentam e analisam, propõem soluções. Matam o seu jogo. Dessa forma, a primeira cena torna todas as outras previsíveis.

P.40

O autor (de teatro) deve aprender a manejar o verbo com parcimônia, humor e ironia. As palavras dizem e contam, mas essas não são suas únicas funções. No teatro, as palavras servem também para não dizer, para mentir, dissimular, fazer vibrar o silêncio, conduzir o ator pela respiração...

Durnez conta de um exercício que gosta de fazer, principalmente em ateliers de curta duração (1 ou 2 dias). Ele pede para que os estagiários escrevam um diálogo. Ele dá um tempo cronometrado. Assim, sob pressão. Ao fim ele pede que cada um conte o número de palavras que tem seu diálogo. Alguém responder 485, e certamente essa pessoas se sente orgulhosa ao saber que uma outra conseguiu 147. Então, o que faz é pedir que todos re-escrevam seu texto com o MENOR número de palavras possível, claro, sem alterar o sentido inicial. Esse exercício tem um efeito de fazer aparecer, produzir, uma língua e uma teatralidade... tudo isso através de retorno ao silêncio. É sabido, quando escrevemos assim usamos palavras explicativas, inúteis..

Mas o exercício não visa a brevidade como forma de modelo estético. É apenas um exercício.

No cinema a aceitação da elipse é mais simples. No teatro, o espaço é único, e os saltos de tempo e espaço não são negociados facilmente. Essa 'pobreza' do dispositivo teatral é sua grande força e riqueza.

A questão do autor é para além de decidir com quais cenas vai decidir contas suas histórias, mas sobretudo quais cenas farão com que sua voz seja ouvida.

Projeto dramatúrgico, estratégia narrativa:

Numa primeira parte incito aos estagiários à escritas mais rápidas, curtas, tiradas. Mas ao longo eu proponho a uma reflexão sobre o desenvolvimento de uma narração, a partir de um projeto dramatúrgico. O tempo de ateliê não permite, claro, que o estagiário realize, finalize, uma peça eu um 'formato normal', mas o ajuda, talvez, a visualizar esse trabalho, começá-lo...... Não existe um método seguro para se escrever uma peça. Cada um trilhará o seu.

P.43

Sobre a questão "como escrever", eu a substituo por "o que tenho escrito e como trabalhar nisso?"

P.44

Cada estagiário, escrevedor, reage e se organiza frente à possibilidade de escrever uma peça de forma diferente. Alguns elaboram um plano; escrevem uma sinopse detalhada; criam detalhadamente de cena à cena; outros seguem 'a ver navios'; Alguns possuem uma história mas não sabem como contá-la, não encontram uma metáfora teatral suscetível de transpor linhas de força, outros possuem uma 'língua vibrante', sabem desenvolver personagens, mas se perdem na narração....

--> Meu trabalho consiste em compreender cada um e refletir sobre seus projetos de peça e levantar questões que os ajudem a avançar.

P.46 Exercícios e jogos de escritura -
Durnez diz adaptar e readaptar constantemente as proposições dos exercícios de acordo com a realidade de cada ateliê.
Muitas vezes os alunos questionam sobre a duração de um texto, de um exercício. Geralmente respondo que o mais importante é eles realizarem o exercício, claro em função do tempo que temos e não se lançarem em um texto muito longo.

Durnez também diz que raramente responde às perguntas referentes aos comandos dos exercícios. As que são relacionadas com o futuro que aquilo terá. Algo como: E depois? Porque fazer assim e não de outra forma...?

P.47
Os exercícios são destinadas a fazer nascer uma 'matéria' que servirá de base (rampa), a partir do qual serão exploradas diferentes PISTAS para construir e desenvolver uma cena ou um PROJETO dramático. Eles permitem, sem perda de tempo, chegarmos no ponto principal, no x da questão.

EXERCÍCIOS

A
- Prefiro que os primeiros exercícios estejam mais referenciados ao imaginário individual de cada participante. Jogos de escrita que exercitem sua memória. Para depois, mais à frente, entrar com proposições e universos "exteriores".

IMPROVISAÇÃO ESCRITA -
p.48
Exercício feito em dupla, podendo ser adaptado para trio. A primeira etapa é realizada sozinho.

1 - Cada um, secretamente, pensa em um personagem. Isso é dar um nome, pensar numa ficha de identidade (por escrito ou mentalmente) que contenha informações objetivas: idade, situação social, estado civil, situação familiar, fatos marcantes da sua história, particularidades físicas...

2 - Forma-se uma dupla. Cada um não revela ao outro nada do seu personagem. A única coisa em comum é decidir um lugar onde poderá a cena entre esses dois personagens.

3 - A dupla irá escrever na mesma folha. Um deles escrever uma primeira réplica do seu personagem e passa a folha ao seu parceiro. Ele lê e escreve em resposta, uma réplica (uma reação, resposta ou não). O exercício deve ser feito em silêncio e cada um tem direito a 7 réplicas. Não é permitido nenhum tido de didascália.

OBS- Acontece de um colocar a primeira réplica afim de evitar que o diálogo se perca em vão com um discurso polido (bom dia. Bom dia. Tudo bem?. Tudo....) A primeira réplica proposta pode ser, por exemplo: "hoje a mesma coisa!", "dessa vez eu sentei"...

LEMBRANÇA - Ficcionalização, transposição do real ao ficcional..
p.49
Trabalho individual, mais complexo que o anterior. Eu proponho em ateliês de longa duração ou em uma 2 etapa.

1 - Durante um tempo dado, cada um folheia sua memória e seleciona uma lembrança, recente ou muito antiga, grave ou banal. Um acontecimento onde tenhamos sido testemunha, um 'protagonista secundário'. Feito isso o próximo passo é reconstituir o mais preciso o evento lembrado, com o máximo de detalhes, ações, palavras, sensações... Esta etapa é feita em silêncio.

2 - Depois, cada um irá refletir sobre o personagem principal, real, e trabalhar para torná-lo fictício. Todas as modificações são possíveis: nome, idade, condição social, ambiente, parentesco... o importante é conferir a lembrança a este personagem fictício, com todas as adaptações que isso acarretará.

3 - Em seguida deve-se dar a palavra ao personagem criado, transposto de um personagem real. Proponho 3 possibilidades de escritura: a) o personagem está sozinho e fala para um objeto; b) o personagem fala para alguém presente que não responde, nem interfere na sua fala; c) o personagem fala para alguém presente que interfere apenas com monossilábicos "ah, não, sim, mmm...".

O objetivo do exercício não é revelar a lembrança usada como ponto de partida.
Geralmente esse exercício serve de base para a construção de uma narrativa. Em etapas seguintes podem aparecer os outros personagens, e o personagem narrador pode perder seu lugar de central, de protagonista.

FIGURA DA INFÂNCIA 
p.50


GUIAS
p.52

Proponho esse exercícios em inícios de ateliês que percebo haver pessoas com pouco hábito de escrita ou que formam um grupo tímido. Início coletivo, depois individual.

1 - Preparo centenas de guias (tiras de papel) e distribuo aos participantes. Peço que escrevam (durante 10minutos) o máximo de palavras, frases, uma em cada papel. Não é preciso refletir sobre a palavra..o que vier.

2 - Mistura-se todos os papéis e depois os estagiários retiram, escolhem tiras que contenham algum conteúdo que lhes parece interessante.

3 -  Agora eles devem formar um diálogo entre A e B.


DIZER TUDO, DIZER NADA
p.59

Uma cena, duas formas. Dizer tudo, não dizer diretamente. O mesmo desfecho. A intenção de dizer 'eu não te amo mais' dizendo 'me passa o sal'.

A CIDADE, ou O VILAREJO
p.63

Ótimo exercício, requer um tempo maior. Levantamos, brain storming, lugares que existem em uma cidade, depois elegemos 1 personagem para cada lugar. *(esse individual). Depois vamos movimentando esse tabuleiro. Escolhemos um acontecimento, algo que perpasse esse espaço da cidade.  O mais importante desse trabalho não é apenas observar o funcionamento desse espaço. Tudo dependerá do tempo disponível, OBJETIVO FINAL, do que se quer privilegiar: se a escritura, a discussão, a sensibilização de certos laços na sociedade. Do temas frequentes: viver junto, corrupção, ecologia, democracia, conflito de geração...


B - RETRABALHAR

Exercícios de tratamento dos textos. Alguns são direcionados à releitura dos textos...

SALA DE IMPRENSA
p.71

Cada estagiário lerá sua cena, os outros serão os jornalistas e farão perguntas ao final. Podemos entrevistar um dos personagens também.


TRAILER
p.72

Exercício realizado mais no final dos ateliês, quando os projetos dramatúrgicos estão mais encorpados e todos os escrevedores possuem algum tipo de conhecimento sobre os demais projetos. Exercício coletivo. Forma-se grupos de 4 ou 5 pessoas, e cada grupo está responsável de realizar um trailer (virtual) sobre as 'futuras' peças de teatro. O autor do texto toma o lugar do realizador e com a ajuda dos seus companheiros elabora um trailer teatralizado que conterá breves trechos do texto, título, frases-slogans, imagens....

ANTES E DEPOIS
p.73

Para retrabalhar uma cena ou fragmento. Proponho ao autor de imaginar uma cena (diálogo, monólogo) que precede ou segue diretamente a cena que ele escreveu. Esse trabalho permite ao autor de cruzar personagens ou situações, de começar a projetar uma ideia de cena versos uma ideia da peça, de antecipar uma progressão dramática. O autor não deve modificar a sua cena já escrita em função das anteriores e posteriores por ele criadas no exercício.






sábado, 9 de março de 2013

El arte de enseñar a escribir - Mario Bellatin (coo.) - Escola Dinâmica de Escritores, México.


Que espaço é esse que estamos chamando de Ateliê de dramaturgia? Por que estamos buscando este lugar? Há algo no fim do horizonte que esperamos ver? Sobre essas perguntas que tenho me feito reporto-me a um texto que encontrei da escritora Giovanna Polarollo, dentro do livro "A arte de escrever", da EDDE. O texto me parece uma reflexão importante para nosso lugar de pensamento, hoje. 'Con esperanza pero sin desesperación', (p.75)

Livre fichamento do livro.
Toda a tradução é de minha responsabilidade.




LAURA BENETTI - Psicanalista (p.19)

Impossível falar da EDDE sem falar de encontro.
O que faz escrever? O corte
O que é escrever? Uma função.

XIMENA BERECOCHEA - Fotógrafa (p.21)

Temas como a disputa entre texto e imagem pela primacia no processo imaginativo, tanto de criação como de recepção de uma obra. As relações que guardam essas duas formas com o que representam e, portanto, como elas se relacionam com a 'realidade'. O jogo de verdade e mentira associado ao fato de mostrar e não mostrar.

FABIENNE BRADU - Escritora (p.23)

Que tipo de conhecimento pode ser útil a um escritor? [...] é tão difícil escrever uma boa vida como vivê-la. Tudo depende de uma coisa indecifrável, impalpável, imprevisível, indomável, que podemos chamar de talento. E isso que chamamos de talento, por falta de uma palavra melhor, não se explica nem se ensina. [...] antes de tudo, trata-se de um ensinamento por contágio. Despertar neles a paixão por todas as possíveis ficções que se precipitam em uma obra.

JEAN ARTURO BRENNAN - Músico (.p25)

Como conclusão do breve curso, tentei me aproximar de um tema pouco tratado e que, segundo as minhas expectativas, despertou também um interesse participar entre os participante. Se tratava de dar-lhes a conhecer algumas formas e estruturas básicas da música, e suas características construtivas particulares, através da audição de certos exemplos arquetípicos e, a partir disso, convoca-los para que em suas práticas pessoais de escritura tentassem, como experimento de arquitetura literária, criar textos nos modelos de algumas formas musicais básicas. Canon, Fuga, Rondó, Sonata...

ALDO CHAPARRO - Artista visual (p.27)

O exercício que propus para minha classe consistia na construção de uma esfera perfeita. [...] chegar à esfera perfeita, que está escondida dentro do bloco irregular (poliuretano).
Nessa construção entravam em jogo muitos aspectos; por um lado, estava o assunto de que não se construiria nada que viesse de um tema pessoal, mas que cada um buscaria chegar a uma forma perfeitamente conhecida por todos: a esfera.
Isso foi de muita utilidade, já que cada um pôde reconhecer sua maneira natural de responder a um problema, algo que corretamente capitalizado se converte no começo de uma estratégia de trabalho.

Pontos:
- O uso e a seleção de um tema, e sua importância dentro da obra.
- A importância de visualizar a obra terminada, para assim planificar o mais detalhado possível os processos de trabalho, tomando em conta as habilidades e deficiências pessoais, uma vez que essas são reconhecidas.
- Como através do trabalho em outras disciplinas é mais sensível visualizar os processos de construção de uma obra.
- Cada ideia tem um tempo específico de realização, que deve ser entendido desde o começo do trabalho.

FEDERICO CAMPBELL - Escritor - (p.29)

A ideia do curso foi indagar o funcionamento da memória no processo de criação literária.
Suas percepções são criações, e sua memória é parte de um contínuo processo da imaginação.

ADRIANA DÍAZ ENCISO - Escritora (p.32)

GUILLERMO FADANELLI - Escritor (p.34)

RAÚL FALCÓ - Músico e tradutor (p.35)

HÉCTOR FERNANDÉZ - Sensorâmico (p.37)

Que se possa experimentar é algo suculento. Exercício: explicamos que ficariam de olhos vendados para realizar um sensorama, que cada coisa que tocariam (incluindo um frango morto e depenado), cada som e palavra que escutassem, assim como os aromas percebidos, formavam parte da estória que teriam que escrever após. [...] O experimento consistia em transportar signos coerentes, quer dizer, a um estória escrita, essa semiótica sensorial.

MARGO GLANTZ - Escritora (p.39)

ANAMARI GOMÍS - Escritora (p. 40)

É necessário entender que o ator de escrever não é um processo sagrado mas uma condensação de tramas e de imagens feitas palavras. Também é uma necessidade e uma revelação: nossa íntima fealdade, a dos leitores, muitas vezes aparece refletida na escritura.
Existem muitas outras possibilidades de abordar "o literário". É o que ocorre na EDDE: rodear o assunto e vislumbrar o momento da faísca.

MARIO GONZÁLES SUÁREZ - Escritor (p.42)

Os gêneros literários são um preconceito e não importam. Os editores se inquietam muito se não podem determinar 'rápido e bem' a qual gênero pertence um livro, porque disso dependem suas estratégias de venda. Jamais concedem ao leitor 'o direito de nascer', como disse um clássico.
O ofício de escritor não se pode ensinar. Aprende quem está em contato com ele.

JUAN JOSÉ GURROLA - Diretor de teatro (p.43)

Não há nada mais refrescante como uma nova visão quando as ideias já se converteram em um muro ou   numa cortina de fumaça, ainda que as cores variem.

FRANCISCO HINOJOSA - Escritor (p.47)

A EDDE se dedica a experimentar as artes e as ciências, a conhecer suas relações, que não poucas vezes estão mais próximas ao ato de escrever que o próprio discurso literário.
EDDE - visão multifocal da criação literária.

MÓNICA LÁVIN - Escritora  (p.49)

DAVID LIDA - Escritor (p.51)

Eu propunha ideias, sugestões, e o que eu acreditava saber sobre os temas. No mais, não podia nada além que perguntar. Fiz perguntas que, no geral, os alunos contestaram sem titubear....

SANDRA LORENZANO - Escritora (p.52)

Escrever para 'tentar saber que escreveríamos se escrevêssemos', escreveu Marguerite Duras. Ou escrever para não morrer, talvez. Ou para não ser mais que palavras. Escrever porque não podemos fazer outra coisa; porque não queremos fazer mais nada. Escrever para conjurar os fantasmas. Escrever para não ter que ir a um escritório. Escrever rodeados de livros mesmo que isso nos leve ao silêncio. Escrever ainda que 'preferiríamos não fazê-lo'. Escrever com todo o corpo. Escrever para que alguém possa 'adotar a postura mais cômoda: sentado, caído, deitado...' Escrever para inventar anjos. Ou para enterrá-los. Escrever com vergonha. Escrever em pé. Escrever na hora violenta. Escrever por aqueles que não estão. Escrever ao ritmo da respiração, relaxados ou afogados num whisky. Escrever para não chegar nunca no ponto final. Escrever com medo. Escrever para inventar as vidas que não vemos do outro lado da porta. Escrever para explorar a noite. Escrever como náufragos. Escrever porque deus não nos escuta. Escrever porque todos morreremos. Escrever para escutar outras vozes. Escrever com lentes novas. Escrever, mãe, na língua dos assassinos. Escrever para dentro. Escrever para salvar os restos. Escrever desde a gagueira. Escrever ao redor do fogo. Escrever longe do computador. Escrever fragilmente. Escrever desesperadamente. Escrever em um tiro. Escrever em idiomas perdidos. Escrever para voltar à casa.

MÓNICA MANSOUR - Escritora (p.54)

RICARDO  MARTÍN - Músico (p.56)

ÁLVARO MATA GUILLÉ - Diretor de teatro (p.58)

Na cena, o ator que quer ser ator, deve conviver e reviver essa animalidade pulsional, volta ao caos inicial vertido em linguagem que, neste caso, é ação combinada com o corpo, mas isso também deve ser feito pelo poeta e pelo narrador.

FABRIZIO MEJÍA MADRID - Escritor (p.60)

Pode-se ensinar aos outros fazer literatura? A resposta é não. Todos, escritores profissionais ou não, tomamos decisões narrativas para persuadir ou seduzir aos demais. A mentira é, talvez, uma das formas narrativas mais parecidas com a literatura. Nesse sentido, não só todos nós podemos fazer literatura, mas também precisamos dela para viver uns com os outros. É por isso que o que se poder ensinar não é a história - a anedota a ser contada é tão pessoal como uma escova de dentes - mas a forma que se pode passar por verossímil. Em uma escola de escritores se ensina a mentir, uma atividade que só se põe em jogo para os demais (por isso é uma falácia que existam escritores que escrevam para si mesmos) e, em seguida os exemplifica como grandes mentirosos: as eleições que fizeram seus autores para não serem descobertos, as sujeiras das pistas, os pontos de vista  que burlam o escrutínio suspeito.


GERARDO MONTIEL KLINT - Fotógrafo (p.62)

Se revertemos esse conceito e assumimos que a fotografia capta sombras, então filosoficamente muda nossa percepção do meio e suas possibilidades  de representação. A escuridão e as sombras são uma metáfora do nosso inconsciente onde mora nossa verdadeira essência, com suas perversões, fobias e os mais delirantes desejos.

Exercício do Assassinato. *VER.

PHILIPPE OLLÉ-LAPRUNE - Promotor literário (p.64)

A literatura não ensina nada e não se aprende.
A EDDE está feita da mesma matéria e tem a mesma textura que a própria literatura. Ao invés de impor um sistema de instalação de certezas, incita a recorrer um espaço de escritura.

IGNACIO PADILLA - Escritor (p.66)

Pode-se ensinar a escrever? [...]
São definitivamente escassos os escritores que devem sua formação aos workshops e oficinas literárias ou às faculdades de letras. [...]
Literatura aprende-se por inércia, pelo trânsito ávido e aberto do escritor no seu mundo. [...]
Que aprende-se melhor a literatura quando ninguém está proposto a ensiná-la, ou quando o que aprende está também em condição de instruir.

EDUARDO ANTONIO PARRA - Escritor (p.68)

EDMUNDO PAZ SOLDÁN - Escritor (p.70)

Há mais de dez anos que dou oficinas de escritura criativa Confesso que meu estilo é bem mais convencional: começo com alguns textos e ideias clássicas sobre o conto (o decálogo de Quiroga, as teses sobre o conto de Piglia,o iceberg de Hmingway), indico aos alunos uma série  de livros de autores canônicos (Borges, Rulfo), e logo discutimos porque funcionam os textos, a partir de um ponto de vista formal: perspectiva, voz narrativa, diálogo, simbolismo, etc. Não sei se se pode aprender a escrever, mas sim, é certo, que uma oficina de escritura serve para que o aluno esteja mais consciente do processo de um escritor que implica um texto e seja, talvez, o melhor editor de si mesmo.
O convite para dar aula na EDDE me tirou da minha rotina. Me pediram para sugerir um tema e um livro, apenas. Não havia nenhuma estrutura determinada. Fiquei nervoso: me assustava um pouco que tanta liberdade terminasse em anarquia de muitas vozes disparadas para diferentes lugares e o silêncio de várias caras que não sabem o que dizer.

A grande maioria dos escritores que conheço não frequentou oficinas, workshops, mas aprendeu a escrever por um processo de osmose, lendo e discutindo leituras.
O grande mérito da EDDE é que faz algo que muitos sabem desde sempre, mas parece não aceitar: uma oficina de escritura cria, mais que escritores, editores.

MAURICIO PILATOWSKY - Filósofo (p.72)

SERGIO PITOl - Escritor (p.73)

Teve um momento em que se multiplicaram as "oficinas livres" de criação literária, de diferentes idades e conhecimentos literários. O mestre dava regras fixas e a imaginação do aluno paralisava. O início do conto, seu desenvolvimento e seu final deviam-se mecanicamente a uma retórica de ferro. Sem possibilidades de liberdade, de desafios, de jogos, o aprendiz de escritor e sua produção se estancava, se convertia em letra morta.
A EDDE criada no México há uns anos foi umas radical inovação.

GIOVANNA POLAROLLO - Escritora e roteirista (p.75)

(sobre a EDDE)
Explicaram, eu lembro muito bem, que o objetivo não era colecionar poemas, contos ou romances; é além, enquanto mais tempo o participante demore para escrever um texto, melhor. Como será então? perguntei incerta. Porque todas as oficinas que conheço funcionam, mais ou menos, segundo essa dinâmica: o condutor da oficina elege um tema, por exemplo 'narração em primeira pessoa', lê-se alguns  fragmentos exemplares e logo em seguida cada aluno constrói um ficção onde o narrador protagonista ou testemunha conta algo. Também pode-se dar ''exercícios'': uma oração inicial com impulso, uma situação determinada para que seja desenvolvida, etc. "A EDDE não oferecerá oficinas desse tipo", disse Mario Bellatin com ênfase. [...]

Em primeiro lugar, que não o interessava que os estudantes aprendessem técnicas narrativas, muito menos fórmulas, mas que - creio que nesse momento ele não tinha muito claro o "como" -  compreendessem a escritura como um processo pessoal e libre. A escola daria essa diversidade de instrumentos que cada um assimilaria ou negaria segundo os seus próprios instintos e interesses. [...]

Era como provar uma 'sopa de galinha', para dizer algo, e reconstruir a maneira como se teria preparado.

JOSÉ MAUNEL PRIETO - Escritor (p.77)

CRISTINA RIVERA-GARZA - Escritora (p.78)

ESCREVER: Antes que a escritura do poema ou do romance ou do ensaio, existe apenas a escritura. O ato de escrever. Aí começa e aí termina tudo - na escritura que é, como disse antes, o ato físico de pensar: essa série de movimentos tanto internos quanto externos que encarnam um certo e singular processo de pensamento.

ESCRITURA E LEITURA: Se escrever é o ato físico de pensar, ler é o ato físico através do qual pensamos com o outro e com sua obra.

MARCELA RODRÍGUEZ - Compositora (p.83)

O acontece com o escritor ao se enfrentar com a música? O escritor raramente  se aproxima da arte sonora como um material de trabalho. A proposta do meu curso é justamente confrontar o escritor com os materiais musicais.

MARISOL SCHULZ - Diretora editorial de Alfaguara (p. 85)

[...] autores com uma obra terminada cujo desejo explícito é dá-la a conhecer.

ENRIQUE SERNA - Escritor (p.87)

IVÁN THAYS - Escritor (p.89)

Um escola que se propões a exigências tão complexas e inéditas não pode dedicar-se  a corrigir  adjetivos. Não deve cair no jogo fácil de comprar os alunos com a sensação - absolutamente falsa - de que estão indo "melhorando" quando o seu conto está mais crível e seu relato mais verossímil. A escola (EDDE) não pretende que um grupo de indivíduos escrevam contos mais ou menos legíveis - para isso estão as oficinas, os manuais de redação, etc, - mas que um grupo de escritores descubra sua vocação e tudo, absolutamente tudo o que tem que dizer, mora no seu interior.

MILAGROS DE LA TORRE - Fotógrafa (p.91)

A experiência na EDDE foi uma experiência compartilhada.

MIGUEL VENTURA - Artista plástico (p.92)

JORGE VOLPI - Escritor (p.94)

Cada vez que dei um curso na EDDE - que fui para conversar sobre literatura - saí mais perturbado, mais confuso e mais enlouquecido: mais apto para voltar aos meus livros. Em meio à banalidade que nos rodeia, este projeto é um oásis caótico que vale a pena celebrar. 


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Aqui dois vídeos onde Mario Bellatin fala da Escuela Dinámica de Escritores.